sábado, 21 de abril de 2012

História Sombria de Hoje: O Acidente (3)

Nesta nova História Sombria Viviane prossegue sua vida após o tragico acidente que tirou a vida de seu marido. Agora, com o dom de prever o futuro, nossa heroína enfrentará terríveis desafios. Neste capítulo, uma morte tragica levará esta senhora a repensar sobre seus preceitos...

Terceira Parte
 
4
Viviane e Helen faziam compras em uma loja de departamentos. Viviane colocou um vestido na sacola usada para guardar os objetos a serem comprados. Helen tagarelava alegremente sobre os colegas da faculdade e as dificuldades do novo emprego como residente em um hospital.  Helen era uma garota de cerca de um metro e meio, os cabelos formidavelmente encaracolados estavam presos em um perfeito rabo de cavalo e usava um vestido branco simples de verão que combinava com a fita no cabelo que era um de um branco um pouco mais escuro. Nos pés usava um grande sapato bege de salto alto. A loja era enorme e toda pitada de anil. As roupas nos cabides que ficavam a disposição para serem pegas eram atraentes e sofisticadas. Helen pegou uma atraente camisa de gola polo e mostrou para Viviane:
- Acha que combina com Demétrio? Atraente não? Talvez para irmos ao baile.-  Viviane não ouviu a pergunta da jovem.- Não parece nada bem. Algo aconteceu-lhe?
- Tive uma nova visão.- disse a mulher. – Eu havia- me esquecido delas. Outras pessoas morrerão desta vez. E serão muitas. Muitas!
- Vamos deixar estas coisas aqui, vamos tomar um sorvete e você irá contar-me detalhadamente onde e quando acontecerão as próximas mortes. –disse a jovem nervosa. As duas foram até um restaurante e pediram milk-shake. Viviane estava aflita e muito apreensiva. Sentou-se desajeitadamente numa cadeira sentindo o frio cadavérico da manhã nublada. Porque ela fora amaldiçoada por aquele dom? Odiava-se por não haver morrido no maldito acidente. As mortes que vira... As pessoas... Sentia-se horrorizada e terrivelmente abatida naquela manhã. Helen retornou com os milk-shakes e perguntou:- O que acontecerá desta vez ? Temos de impedir isto.
- Não. Como evacuariam todas as áreas em tão pouco tempo?- perguntou-se Vivi.- Isto se eles acreitassem-me! Desta vez morrerão dezenas de pessoas em um atentado terrorista! Setenta e sete pessoas serão mortas. –disse a mulher empalidecida.- E sabe-se lá quantas sairão feridas. Não há como impedir. Não há o que fazer. Eu estou desesperada.
- Onde?-perguntou Helen com medo.- Onde?
- Na Noruega.
- Temos de impedir. Temos de fazer algo, Vivi. Eu jamais poderia viver com a culpa por estas mortes. –disse a jovem.
Viviane respirou fundo e fez que não com a cabeça dolorida:
- Ninguém acreditaria em nós. –afirmou.- Me chamariam de louca. Você sabe tão bem como eu que ninguém acreditaria. Seria uma estupidez. Não posso evitar. Eu... apenas sei... eu apenas sei, mas não posso evitar!
- Porque não conta as autoridades?- disparou a jovem nervosa.-  Algo esta passando-se com você? Porque fica em silencio antes de mortes tão horríveis como esta?
- Eu não posso. Eu... tenho medo. –disse ela.- Eu tenho medo!
Na manhã seguinte os jornais anunciavam sobre a Noruega estar de luto graças as dezenas de pessoas assassinadas barbaramente em um terrível ataque terrorista. Enquanto acompanhavam as notícias no jornal, Vivi pode sentir o olhar horrorizado de Helen encarando-a. Vivi soube então que jamais seria a mesma. Seria sempre assombrada pela culpa. Vivi nunca mais seria a mesma depois daquelas mortes...
Ela não mais conseguia dormir...
Tinha medo dos pesadelos! Quando dormia a coisa vinha visita-la macabramente, fazendo ameaças e brincadeiras cruéis. Quando acordava ela não tinha nenhum arranhão ou corte dos que a coisa fazia-lhe durante as madrugadas malditas, mas ela sabia que a coisa estava por perto. Que a coisa não queria que ela comentasse com ninguém suas visões de mortes e tragédias. Ela sabia que a coisa queria pegar-lhe... O tempo passava. Por vezes ela ficava meses sem ouvir a vozes, mas elas  voltavam, elas sempre contavam-lhe coisas. Certa vez ela ouviu: Manamorte. E na manhã seguinte sua irmã foi encontrada morta no quarto de sua casa. No enterro da senhora que era ainda razoavelmente jovem e tinha um filho pequeno, vestida com blusa negra, Helen encontrou Vivi parada com o rosto sombriamente preocupado e duro. Helen aproximou-se:
- Você sabia não é?
- Sim. –respondeu Viviane.- De certa forma sim. Eu sabia.
Helen colocou a mão sobre o ombro de Viviane tentando dar-lhe algum consolo. Mas o rosto da mãe de Demétrio estava duro como uma pedra de granizo. Os olhos estavam vigorosamente pousados sobre o agora órfão e mirrado garotinho filho de sua falecida irmã. Quantos mais a coisa iria pegar? Quantas outras vidas roubaria? Naquele instante enquanto o caixão era abaixado lentamente levando a irmã para o túmulo, Vivi decidiu que precisava ser forte. Precisava ser inteligente. Precisava ser esperta.
Aquela mulher velha e solitária decidiu enfim que precisava enfrentar a coisa.
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As festas natalinas de final de ano chegaram. Vivi estava preocupada em arrumar a casa para a chegada dos parentes que viriam para a ceia. Com a ajuda de Helen ela preparava um peru assado regado com vinho e frutas silvestres, uma maionese e uma bela e apetitosa salada marroquina seriam alguns dos inúmeros pratos que a mulher serviria na ceia. Demétrio ajudava decorando alegremente a casa para a festa. Enquanto carregava uma enorme pilha de objetos para decoração deu um tapa nas nadegas de Helen com um sorriso debochado:
- Eu adoro ver você nas manhãs de natal.
- Você adora comer o peru de natal que é receita da minha avó.- corrigiu ela com um sorriso feliz. – Agora trate de terminar a decoração antes que eu te enfie esse peru na cabeça!- ele fez cara de manhoso e ela sorriu alegremente. Apressada Vivi picava pimentões amarelos.
- Eu estou tão feliz que vocês estejam namorando firme. Mal posso esperar até ter um netinho! –exclamou.
- Deus que me livre! –exclamou Helen com um sorriso engraçado.- Não jogue mal agouro em mim não hein! Se você obteve uma premonição quanto a isto afirmo-lhe que viu errado. –disse ligeiramente assustada.
- Na verdade ultimamente eu não...-começou a dizer a outra quando ouviu uma voz sussurrando sobre seus ouvidos sorrateiramente: Chacina, família! Hoje! Avenida Fonseca!!!
Viviane sentou-se sobre a cadeira, tonta. Haveria uma chacina. Uma família inteira seria morta na Avenida Fonseca a algumas quadras de seu bairro. Ela precisava impedir. Precisava ligar para a polícia. Não deixaria outras crianças ficarem órfãs como o sobrinho. Precisava impedir.
- Você me empresta seu celular, querida?- perguntou nervosa.
-  Claro. –respondeu Helen procurando o celular no bolso da calça jeans. Ela podia ver os corpos espalhados pela casa. O homem chorando e depois atirando na cabeça com um revolver. Helen entregou-lhe o moderno celular rapidamente.
Ela discou o número da polícia e uma voz cansada atendeu:
- Alô. Polícia Militar de Belo Horizonte.
Ela tentou parecer sóbria embora sem êxito:
- Vocês devem dirigir-se hoje para a avenida Fonseca. Um homem matará a mulher e os dois filhas em uma das casas de lá.
- É mesmo? –perguntou a voz do outro lado da linha .- A que horas?
Vivi ficou em silencio por alguns instantes. Em sua visão não dava para saber ao certo a que horas os crimes aconteceriam:
- Eu não sei. Mas é hoje. Durante o dia.
- Certo. E a senhora sabe onde o homicídio acontecerá?
- Não.- respondeu ela infeliz.- Mas é verdade. Juro-lhe! Não poderia mandar uma viatura para lá?
- Senhora!- exclamou a voz desacreditada.- Hoje é natal, não há muitas viaturas disponíveis! A senhora não sabe nem sequer onde é. Além do mais é uma avenida enorme, não podemos sair a bater de porta em porta perguntando as pessoas se  há um maníaco homicida em sua casa.
- São crianças. Eu vi em minha premonição. Não estou a mentir. Tudo o que digo acontece!- mas o telefone já havia sido desligado do outro lado da linha pelo imprestável policial. Ela sentiu uma voz rouca dizer em seus ouvidos: AGORA. Ela olhou para Helen que encarava-lhe curiosa.- Helen ligue novamente para o polícia e diga que ocorrerão mortes agora na avenida Fonseca. Preciso impedir. –disse ela virando-se e desaparecendo apressadamente na porta do jardim.
 AGoRa. Repetia a voz em sua mente. O carro seguia pelas ruas cheias de gente fazendo compras. A voz continuava a repetir em sua mente: AgOrA. Ela sentia um homem forte encontrar a esposa e preparando um enorme caldeirão de sopa de cenoura fumegante para as crianças em uma casa simples e pequena.
 - Mamãe? Não teremos peru hoje? –disse uma garotinha pequena com os cachinhos desgrenhados olhando suplicante para a mãe triste.
- Não querida. –disse ela com uma falsa promessa de sorriso nos lábios doentios.- No ano novo prometo que estaremos num lugar bem melhor do que este com um peru e um bolo de chocolate delicioso esta bem?
- Bolo de chocolate? –perguntou a garotinha ansiosa enquanto um homem  entrava na casa com os olhos tristes.- Bolo de chocolate? –perguntava a menina com o sorriso no rostinho.- Com cobertura mamãe?
- Sim querida.- ressoou a voz nervosa da mulher.- Com calda de chocolate.
AgOrA. Viviane tentava acalmar-se enquanto finalmente se aproximava da Avenida Fonseca. Tudo em que a mulher pensava era em impedir o homicídio.
A mulher chorava em uma velha cadeira e homem misturava o conteúdo de um vidro na sopa lentamente.
- Tem certeza de que realmente é nescessario?- perguntou a mulher olhando-o confusa.
      Onde diabos seria esta maldita casa? O carro seguia pela avenida Fonseca.
- Queridos!- exclamou a mãe triste.- Trouxe sopa de cenoura com ervilha. Comam.
- Sopa de cenoura de novo? –perguntou um rapazinho com um rosto emburrado.- Não tem carne? Odeio sopa.
- Se comerem comprarei sorvete.- disse a mulher colocando o estranho caldeirão sobre a mesa e servindo sopa para as crianças e o marido..
Viviane entrou em uma velha e decrepta casa com um grande terreno de terra. Bateu na porta aterrorizada. Não houve resposta. O local encontrava-se mergulhado no silencio como se que completamente vazio. Mas ela sabia... Estavam lá... Em algum lugar! Começou a caminhar apressada em meio embolorado corredor lateral cheio de entulho. Precisava impedi-los! Mas onde estavam? ONDE?
 A música continuava a tocar. Era algo sobre lagartixas encantadas. Que espécie de música maluca era aquela?
- Acalme-se.- disse para si mesma.  Viu uma porta semi aberta nos fundos. Correu apressadamente e abrindo-a com mãos tremulas. – É aqui. –disse.- É aqui!- segurou a porta vacilante empurrando-a lentamente. Um homem segurava uma pistola na mão direita preparando-se para dispara-la.- Pare!- gritou ela.- Onde estão as crianças?
Ele olhou-a:
- Eu... –disse.- Eu... não posso. Eu não posso! Eu não pude... Eu não pude...- ela ouvia crianças chorando baixinho. Ela abandonou apressadamente o homem ainda com a arma na mão.- Eu não consegui. –dizia tensa. Ela abriu a porta do quarto ao lado.
Seu coração saltou quando viu a mulher de suas macabras premonições caída com a boca arquejante. No radio uma música infantil tocava.
- Prometam para mamãe. –pedia a mulher ensanguentada.- Prometam para a mamãe que serão fortes. –dizia a mulher com os grandes olhos esbugalhados.
As três crianças sentavam-se ao lado do corpo moribundo em pranto. A mulher com um olhar triste perguntou a Vivi:
- Quem é você? –e depois:-Impeça Damião! Eu lhe imploro!
Neste instante o pai das crianças, Damião entrou no quarto com uma arma em punho.
- O que faz aqui? –perguntou.- Não entende como odeio vadias intrometidas?- e então ela soube que a coisa controlava o homem. Ela soube que esta estava furiosa com ela por tentar impedir-lhe. A coisa controlava os pensamentos de Damião e queria sangue. - Parada! –exclamou Damião sombrio.- Parada ou a mato!- Assustada, Viviane começou a pensar em como poderia salvar-se. Precisava distraí-lo.
- Acalme-se... –começou a dizer ela.
- Agora deixará de ser a droga da nova pedra no meu sapato. Foi divertido brincar com você. Espera. Talvez tenha chamado a polícia! –exclamou o homem desvairado. E atirou. No entanto Vivi, já jogava-se contra ele desesperadamente tentando agarrar a arma que atirava ensandecidamente.
- Fujam crianças! Fujam. –dizia a mãe antes de morrer.
Sem forças ela conseguiu agarrar a arma de fogo do homem enquanto ele caiu derrubando um jarro de flores com a arma na mão. Ela pegou a arma de fogo. Antes que suas pernas doloridas pudessem levantarem-se o homem segurando um enorme e pontiagudo caco do jarro quebrado segurava-a e tentava rasgar-lhe a garganta. Ela engatilhou a arma e atirou agilmente.
O som das sirenes da polícia soava distante.
O cadáver do terrível Damião caiu sobre o assoalho.
(Conclui na Proxima Parte.)

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