Parte Dois
Viviane era uma
mulher bela para sua idade. Possuia dois belos olhos negros e cabelos castanho dourados. Depois do acidente com seu marido, teria sua vida mudada de forma
brusca. A primeira premonição que ela teve foi no hospital, ela estava deitada
sobre a cama conversando com Demétrio quando de-repente ela escutou uma voz
rouca e sombria dizer-lhe: Água No Japão.
Ela sentiu um calafrio. Demétrio, seu filho, notou sua fisionomia agitada:
- O que houve mãe?
Parece-me apreensiva.
- Hoje. Pessoas vão
morrer. Muitas delas. No Japão hoje.
Demétrio sorriu
desconfiado:
- A senhora quer um
copo de suco?- disse ele.- Não comeu desde o acidente.
- Seu pai morreu!
–exclamou Vivi com cólera.- Seu pai esta morto Demétrio! Não sabe o quanto
estou infeliz. –disse ela bruscamente.- Acredite em mim. Eu também teria
morrido se não houvesse saído daquele carro. Eu também estaria carbonizada
naquela droga de despenhadeiro se não fosse por meu instinto.
Ele sorriu
tranquilizadoramente:
- Esta tudo bem
agora mãe. Você esta viva e estou aqui. Do seu lado. Nada de mal aconteçerá-lhe.
A morte horrível de papai deve ter-lhe sido muito difícil. Sei que esta
inconformada. Mas farei de tudo para que possamos de alguma forma lidar com
isto. Nós conseguiremos superar mãe. Eu prometo-lhe.
- Uma coisa ruim
vai acontecer no Japão! –exclamou Vivi nervosa. – Esteja certo disto querido!
Eu o sei de alguma forma. Algo ruim esta para acontecer! Algo ruim esta a solta
e quer mortes! Muitas mortes. Centenas talvez!
Demetrio era alto
de grandes olhos negros, cabelos louros e pele bronzeada. Naquele momento o
rapaz encontrava-se preocupado com a mãe. Sua mãe não falava muito e parecia de
alguma forma aterrorizada e arredia. Ele não entendia o que estava havendo. O
que lhe afligia. Ela dizia haver tido sensações estranhas sobre a própria morte
antes de o carro ser arrastado pela encosta com o caminhão. No entanto Demetrio
não conseguia acreditar muito sobre sua mãe estar tendo visões ou premonições.
Isto era coisa de filme. Era simplesmente uma grande loucura! Talvez Viviane
houvesse considerado a possibilidade de um acidente por causa da chuva, e agora
de certa forma sentisse-se culpada pela morte do marido.
- Demétrio!
–exclamou Viviane.- Por favor! Acredite em mim! Talvez possamos evitar estas
mortes! Temos de falar com a polícia!
Neste instante a
porta abriu-se e Helen, a namorada de Demétrio entrou:
- Olá. –disse a
jovem com um sorriso feliz no rosto.- Eu trouxe algo para comermos.
Naquela tarde Helen
ficou com Viviane cuidando-lhe enquanto
Demétrio tomava banho no hotel. Eram dez horas quando uma jovem
misteriosa entrou no quarto. Ela gargalhou assustadoramente. Usava uma túnica
hospitalar e sorria macabra:
- Você sabe.- disse
com um sorriso sombrio.- Eu sei que você sabe. Apartir de agora sempre saberá!
Helen olhou a
mulher assustada. Vivi sentiu um arrepio percorrer seu corpo. Algo lhe dizia
que aquela mulher misteriosa que adentrara no quarto subitamente era de alguma
forma como ela. Era como se houvesse uma energia na mulher que fizesse com que
identificassem-se. A mulher continuava a repetir:
- Você sabe. –disse sombria.- Eu sei que você sabe. Eu sei de tudo. Eu sei sobre o mal! E o mal
esta atrás de você! O mal está atrás de você.
Neste instante
algumas enfermeiras entraram no quarto e seguraram a mulher:
- Sofia, acalme-se
querida. –diziam.- Precisa voltar para o quarto! Esta tudo bem.
- As vozes irão
atormenta-la. –dizia a mulher misteriosa.- Irão enlouquece-la. Eu tenho um dom
e você também tem. São dons diferentes. –gritava tentando soltar-se da
enfermeira. - São dons muito diferentes. Eu posso sentir quem sabe. Você...
você é quem sabe. Você esta em perigo.- dizia enquanto as enfermeiras
arrastavam –a pelo corredor e Vivi ficava a encarar-lhe encostada na porta.-
Tome cuidado! A coisa irá pega-la. A coisa irá pega-la se tentar impedi-la!
Assombrada pelas
palavras da misteriosa mulher, algumas horas depois em seu quarto Viviane
tentava alertar Helen sobre as mortes no Japão:
- Algo vai
acontecer no Japão! –exclamou a mulher.- Precisamos impedir, menina!
Percebendo a aflição
e a angustia de Vivi, Helen disse:
- Tudo bem.
Ligaremos no jornal da tarde para que a senhora veja que não esta acontecendo
nada no Japão. – disse sorrindo alegre.- Veja só. –disse a jovem ligando o
aparelho de t.v. com o controle remoto. Assustada Viviane pegou um copo de
água sobre a mesa e assistiu ao jornal aflita enquanto os apresentadores davam
as notícias do dia sem mencionarem o tal desastre no Japão. A senhora sorriu
aliviada quando o noticiário finalmente terminou.
- Viu? Não houve
absolutamente nada nada no Japão hoje. E acredite em mim,- tagarelava a jovem
enquanto começava a folhear uma revista de fofocas. – Se há um país propenso a
mortes trágicas este país é o Japão. Fiquei até preocupada com uma possível
morte no país. –disse fechando a revista. – A senhora daria crédito as visões.
Mas não houve nada. O Japão não foi devastado por uma tragédia de centenas de
mortes! Agora descanse um pouco que esta tudo bem. –disse a jovem
reconfortantemente com um sorriso acalmando momentaneamente a senhora. No
entanto, as palavras sinistras da mulher da ala psiquiátrica, ressoavam ainda
em sua mente, agourentas... estarrecedoras... suplicantes... lúcidas...
Mais calma Viviane
passou parte da tarde com Helen conversando animadamente. Já eram duas horas quando
a enfermeira veio trocar os curativos que cobriam os cortes profundos que a
mulher fizera nas mãos enquanto tentava desesperadamente quebrar os vidros do
carro tentando fugir. Mas assim que a enfermeira saiu, Viviane voltou a ficar
agitada:
- É agora. –disse de-repente.
- O que disse?
- Eu não disse
nada. –respondeu Vivi que cochilava sobre a cama. Mas a jovem e bela Helen de alguma forma teve a estranha
impressão de ouvir a mulher dizer algo.
E de alguma forma, a garota que cuidava
pacientemente da sogra naquela manhã húmida e ao mesmo tempo ensolarada, pensou
assustada, enquanto folheava animadamente a revista de amenidades, se as
premonições que sua sogra dizia ter de forma tão lúcida não poderiam de alguma
forma realizarem-se. Ela nunca vira a sogra arredia daquela maneira. Era como
se forças ocultas a incomodassem. Poderia de alguma forma estar certa quanto a
uma possível tragédia no Japão. Poderia isto realizar-se?
E realizou-se.
Naquela tarde quando Demétrio voltou de
casa para ficar com a mãe , esta já mais calma, deitada sobre a cama,
percebendo o rosto estranho do filho perguntou:
- Querido. Não aconteceu
algo em especial, aconteceu?-perguntou a senhora de-repente tomada de medo.
Ele olhou-a. Estava
nervoso e constrangido:
- Aconteceu uma
coisa horrível hoje...- disse ele assustado. Helen que acabara de voltar para
uma nova visita sentava-se ao lado do rapaz.
- Dona Viviane.
Desculpe-nos por não acreditarmos na senhora.
Demétrio bateu com
força contra o ombro da jovem cutucando-a:
- Ora! Foi apenas
conhecidencia, meu amor! Só isto!
- O que houve?
–perguntou Viviane. Será que estavam certas as suas suspeitas. Será que...-
Houve um tsunami no Japão. –balbuciou a mulher constrangida.
- Sim mamãe. –disse
Demétrio desconfiado.- Estão todos comentando.
Naquela noite, em
todos os notíciarios falava-se apenas sobre o tsunami causado por um terremoto
em grande escala que causara incontáveis vítimas.
#####
Felipe
arrastava-se pelo seu quarto. A boca roxa sorria malignamente, os olhos
esbugalhados olhavam-na sombrios. Ela
observava o marido sem acreditar em como era bom ve-lo novamente, em vê-lo vivo
ao seu lado. No entanto ela não conseguia reconhece-lo. O rosto trazia uma
expressão sorridente, um sorriso estranho e macabro nos dentes muito brancos. A
pele estava roxa e inchada. Mas o sorriso era perturbador. Ela nunca vira o
marido sorrir daquela forma. Era uma espécie de máscara doentia e enlouquecida
que cobria o rosto de Felipe agora.
-
O que quer?-perguntava ela, no entanto ele continuava a segura-la com uma
força descomunal nas mãos ossudas e apenas gargalhava e gargalhava enquanto ela
tentava soltar-se desesperadamente.- O que quer? –perguntava ela tentando
esquivar-se dos dedos ossudos e do sorriso malévolo.
-
Eu vou pega-la. –finalmente disse ele com uma voz áspera e rouca.- Eu vou
pega-la. Não pode esconder-se. – dizia Felipe.- Não poderá salva-los! Eu vou
pega-la! Vou pega-la! Juro!- e segurava-a gargalhando e puxando-a até que ela
viu fogo, muito fogo e ele levava-a entre o fogo e as trevas e ela era queimada
e engolida pelas chamas.
Viviane acordou
assustada. Logo percebeu que estivera sonhando. Seu corpo estava molhado e um
pesadelo antigo lhe voltou a mente. O acidente em que quase morrera a um mês
atrás voltou a sua mente. E então ela lembrou-se também da visão das mortes no
Haiti. A coisa pegara varias pessoas no Japão. Ela sentiu um calafrio,
levantou-se e foi até a cozinha tomar água, haviam se passado varias semanas após o acidente na colina e desde então, não havia sido incomodada novamente por quaisquer
maus presságios. Mas ela sabia que a coisa queria mais vítimas e que
logo ela seria alertada. E talvez desta vez conseguisse impedi-la.
- Mamãe? Esta bem?
Eu a ouvi gritando lá no quarto. –disse
Demétrio preocupado.
- Apenas tive um
sonho ruim. –disse a mulher forçando um sorriso.- Vá dormir querido. – o rapaz
afastou-se apressadamente e ela se sentou sobre a cadeira ofegante. Não queria
voltar a dormir. Talvez a coisa ainda estivesse por perto... Talvez fosse melhor
espera-la ir embora...
...Dormir não era mais seguro...
Continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário